É observando que aprendemos!
O Monge e o Rio
O discípulo Cheng se preparava para liderar seu povo. Procurou, então, o monge Lin.
Mestre, já estou pronto para assumir o meu posto.
...
Observe este rio: qual a importância dele? – perguntou Lin, do alto de uma montanha. Cheng observou o rio, seu vale, a vila, a floresta, os animais e respondeu-lhe:
Mestre, este rio é a fonte do sustento da nossa aldeia. Ele nos dá água que bebemos, os frutos das árvores, a colheita da plantação, o transporte de mercadorias, os animais que estão ao nosso redor e muito mais. Sem ele, não estaríamos aqui. Nossos antepassados construíram este templo e estas casas, justamente por causa deste rio. Nosso futuro depende do futuro dele.
O monge Lin colocou a mão na cabeça do discípulo e pediu-lhe que continuasse a observar. Os meses se passaram. O mestre procurou Cheng.
Observe este rio: qual a importância dele? – Perguntou Lin, do alto da mesma montanha.
Mestre, este rio é fonte de inspiração para o nosso povo. Veja sua nascente: ela é pequena e modesta, mas com o curso do rio se torna forte e poderosa. Esse rio nasce e tem um objetivo: chegar ao oceano. Mas sabe que, para chegar lá, terá de passar por muito lugares e por muitas mudanças. Terá de receber afluentes, contornar obstáculos. Como o rio, temos de aprender a fluir. O formato do rio é definido pelas suas margens, assim como nossa vida é influenciada pelas pessoas com as quais convivemos. Os rio sem suas margens não é nada. Sem nossos amigos e familiares, também não somos nada. O rio flui de acordo com o terreno; nós também temos de aprender a desviar nossas rotas. O rio nos ensina que uma curva pode significar a solução de problemas, e isso não o desmerece. Logo após a curva, podemos achar um vale que desconhecíamos. O rio tem suas cachoeiras, suas turbulências, mas continua em frente, porque tem um objetivo. O rio nos ensina que uma mudança imprevista pode ser uma oportunidade de crescer. Veja no fim do vale: o rio recebe de braços abertos um novo afluente e, assim, torna-se mais forte. Nós temos de mudar e os adaptar, mas os nossos sonhos e objetivos estarão sempre presentes ao longo de todo o caminho. Observo também que o rio não pergunta o que ele pode usufruir da árvore, e sim como pode ajudar a árvore. É como se o “eu” se realizasse pelo “nós”. Ajudando a árvore, os pássaros e animais, o rio, indiretamente, ajuda a si próprio.
O monge Lin colocou a mão na cabeça do discípulo e pediu-lhe que continuasse a observar. Os meses se passaram. Novamente o mestre perguntou:
Observe este rio: qual a importância dele?
Mestre, vejo o rio em outra dimensão. Vejo o ciclo das águas. Este água que está indo já virou nuvem, chuva e penetrou na terra várias vezes. Vejo as enchentes e também quando o rio parece secar. Vejo que o que chamamos de mudança é parte de um ciclo maior, que se manifesta vez por outra, isto é, a enchente e a seca. O rio nos ajuda a não observar apenas a parte aparente desse fluxo, e isso é a mudança. A enchente e a seca do rio fazem parte de um processo maior. Para entendê-los, temos de enxergar todo o ciclo. Entendendo o ciclo, a mudança deixa de ser inesperada e passa a ser esperada. Sempre que nós chamamos de algo de mudança é porque não estamos percebendo o ciclo maior. O rio nos mostra que, se aprendemos a perceber esses ciclos, o que chamamos de mudança será apenas a continuidade do ciclo. Será que serei capaz de entender o fluxo da vida?
O monge colocou a mão na cabeça do discípulo, sem responde-lhe a pergunta, e pediu-lhe que continuasse a observar. Os meses se passaram. Novamente o mestre perguntou:
Observe este rio: qual a importância dele?
Mestre, este rio me mostrou que, cada vez que eu o observo, aprendo algo novo. É observando que aprendemos. Não aprendo quando as pessoas me dizem algo; aprendo quando as coisas fazem sentido para mim. A observação é o aprendizado, quando sabemos contemplar.
Vá e siga o seu caminho, meu filho. Como é difícil aprender a aprender.
Fonte: Livro Liderança e motivação – Série FGV.
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